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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Clarice está viva em mim

Por Ellen Reis

Muitas pessoas, amigos e leitores deste blog, insistiram com tamanha veemência para que Clarice se tornasse assunto. Tal insistência chegou a beirar a cobrança, por isso resolvi ceder às pressões: “Não acredito que você ainda não escreveu nada sobre Clarice...”, “O blog só será completo quando Clarice passar por lá”, “Só quando Clarice aparecer é que eu vou ler a categoria Livro-me do blog”. Isso com certeza perturbou-me. Fiquei feliz por saber do tamanho da influência de Clarice! Deixo Claro que li muito mais sobre a escritora do que suas obras. Isso é um disparate, eu sei. Mas eu resolvi fazer o caminho inverso com Clarice: eu quis saber quem é Clarice Lispector e só depois ler suas obras. Isso tem me ajudado a entendê-la. Vamos a ela.

O que explicaria um professor chegar para Clarice e dizer que não entende o que ela escreve e depois uma adolescente confessar à escritora que seus livros são os primeiros de sua cabeceira? A ucraniana que teve sua infância e adolescência registrada no nordeste brasileiro - em Maceió; em Recife: à beira do Capibaribe; em Olinda – tomava banhos de mar, antes de o sol nascer, pegava o bonde ainda vazio e a madrugada escura; aos domingos ia visitar a casa de sua empregada nos mocambos e sentia uma profunda necessidade de “querer ser” para mudar aquela situação.

Aos poucos, na visão de muitos críticos, Clarice se constituiu como uma escritora enigmática, misteriosa, mística e hermética. No entanto, o que a escritora fez em toda a sua vida foi revelar a própria essência humana que já é complexa por si só. A completude de sua literatura e a quantidade de temas que podemos encontrar nos seus escritos fez de Clarice “a mestra das grandes respostas”. E mesmo com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento das redes sociais, os livros de Clarice não foram esquecidos. Pelo contrário, Lispector está ainda mais presente.

Ela estranha de ser ela, evocava a existência na medida em que insistia em viver. E essa vivência era “apesar de” qualquer coisa. Não se somava, era “uma cadeira e duas maçãs”. Morria, cada vez que terminava um livro morria. Precisava de apenas um sopro de vida para permanecer viva no próximo livro que talvez escrevesse. Mas “A Hora da Estrela” foi a sua hora, e ela bem sabia disso. O livro representou inicialmente a morte da escritora, e depois a raiz profunda que Clarice se tornaria com a  vitória do câncer.

No último dia 10, Clarice Lispector completaria 91 anos se estivesse viva. Para marcá-lo, foi criado o dia de Clarice Lispetor, o dia C. Em vários estados brasileiros foram feitas homenagens à escritora: saraus e leituras de crônicas e histórias infantis. No Recife, na Praça Maciel Pinheiro-Boa Vista, o projeto Hora de Clarice ganhou destaque, na Livraria Jaqueira. A escritora Fátima Quincas esteve à frente do projeto. Clarice foi a segunda escritora a ganhar um dia só para ela. Antes, foi a vez de Carlos Drummond de Andrade que no dia 10 de Outubro de 2011 completaria 119 anos. Hoje a data é conhecida como o Dia D.

Há dois livros que merecem indicação, caso alguém tenha interesse em se aprofundar na escritora, que são: “Clarice,” de Benjamin Moser e “Clarice Fotobiografia” de Nádia Battella Gotlib”. Essas duas leituras têm me ajudado a ler e entender a história dessa escritora que, todos nós sabemos, vem marcando geração após geração, mesmo depois de sua morte. 


"Clarice Fotobiografia" e "Clarice,"

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