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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Semana da cultura Afro-Lusófona: O Mussiro

                                               Por Carla Moreira

A preocupação feminina com a estética é um tema mais que batido na sociedade, a vontade de sempre estar bem consigo mesma ou de adequar-se a uma beleza imposta. No século XXI a situação piorou drasticamente. O padrão de beleza mudou do que fora outrora, o pensamento do que se é bonito passou a ser exigido de uma forma descontrolada. Antigamente, mulheres mais “fortinhas”, robustas, eram as mulheres dos sonhos para qualquer homem. Hoje, me parece que quanto mais magra e alta mais perfeita você é. Acrescentando-se a isso pode ser colocado como alguns dos vetores dessa forma de pensar (errônea): a publicidade e os “tipos” de mulheres perfeitas da sociedade atual imposta (de certa forma) pela ditadura da moda.

Créditos da foto:Blog "Beijo de mulata"
Centenas de dinheiros gastos para manter-se bonita. Corpo. Cabelo. Vestuários... Indústrias que nunca param de crescer. Mas engana-se quem acha que o mundo todo é seguidor dessa vertente. Há quem lute contra essa ditadura, e há quem apenas viva sua vida, que tem outros pensamentos em relação à estética e que ainda conserve ideais como antigamente.

Em Moçambique, por exemplo, o tratamento mais “drástico” ligado à estética é a máscara de Mussiro. A “máscara da beleza” como é conhecida, é uma pasta feita com água mistura ao pó extraído do caule da planta. Deve-se friccionar a parte da planta numa pedra até o pozinho aparecer.

Há muitas versões do real significado dessa pintura nas faces das mulheres do país. Alguns dizem que apenas mulheres (não adolescentes ou crianças) podem usar este adorno, como um ritual de transição da fase de menina à mulher. Há também os que dizem que as mulheres utilizam esse enfeite para sinalizar a ausência do marido na casa. Em outros tempos, houve quem dissesse que era usada apenas por virgens; teorias à parte, o mussiro, além de ser um ótimo tratamento para a pele, é bastante usado para outros fins: a planta cura diversas enfermidades, trata febre e dores de garganta.

A planta é nativa de Moçambique, por isso, existem diversas iniciativas de preservação e multiplicação dela. Há um projeto desempenhado pelo governo em parceria com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e a Organização Internacional do Trabalho para que essas ideias deem certo.

Foto pertencente ao blog "África do meu coração"

Em regiões como Nampula e Cabo Delgado há um uso exacerbado do mussiro, e se fala em perigo de extinção futuramente nessas áreas. Mas os trabalhos de multiplicação andam num ritmo satisfatório para o governo. Em lugares onde a planta é abundante serão criadas condições para sua industrialização com a perspectiva de dar maior valor comercial ao “produto”. As famílias e comunidades envolvidas nesse âmbito de negócios serão totalmente beneficiadas, podendo aumentar sua renda.

De uso estético ou medicinal o mussiro é, sobretudo, de grande importância cultural para Moçambique. O uso do mussiro, além dessas "utilidades" me fez ver que para se estar "bonita" não precisa gastar um tanto de dinheiro que se gasta hoje em dia quando o assunto é estética. Está tudo ao alcance delas, sem falar que é um tratamento totalmente natural e eficaz. Certo que não podemos fazer parâmetros em relação à cultura dessas mulheres e as que estão totalmente mergulhadas no mundo capitalista atrativo, mas deixo aqui meu ponto de vista do que é que se pode considerado bonito. Devemos nos contentar com que temos e fazer disso algo grande. 

Um comentário:

  1. O melhor mussiro é deixar a beleza interior transparecer. Dessa forma as rugas, cicatrizes, formas não-ditadas, ganham um brilho humano que só as pessoas que verdadeiramente enxergam podem ver.
    ^^
    -Deixar de lado a cultura da beleza, enaltecer a beleza da cultura.-

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