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domingo, 23 de outubro de 2011

Diretor, roteirista e ator: um Mira para calar a boca de conservadores e liberais

por Stamberg Júnior


Filmes pornô? Filmes de protesto? Filmes anarquistas? Talvez nenhum desses rótulos os defina. Talvez todos esses rótulos os defina. Fabrício Mira quer apenas liberdade. Liberdade sexual, política, civil: liberdade de expressão. De acordo com o cineasta, seu propósito é tocar nas feridas mais íntimas de cada instituição social, e não apenas tocar, mas arrancar delas, através de sua arte, a hipocrisia puritana e falso-moralista.
Em entrevista exclusiva ao AS CORES DAS RUAS, o diretor, roteirista e ator fala abertamente sobre seus longas e curtas, e o propósito de fazê-los.

“Sexo na Planície 2 foi a minha carta de alforria da sociedade”

Mira ficou conhecido após lançar a produção "Sexo na planície 2 – Sem limites", um longa erótico que vocifera para o mundo, questionamentos sobre o contexto social e sexual do Brasil. Cenas polêmicas com uma pegada niilista são freqüentes no filme: a amante de um vereador da cidade de Campos dos Goyatacazes no RJ; sexo no cemitério; sexo entre personagens vestidos de Jesus Cristo e  Virgem Maria num interior de um santuário; um policial com a farda militar do Rio obrigado a fazer sexo com bandidos; tudo isso em meio a uma pesada trilha sonora que vai desde The Mechanical God a Laibach, e intercalado com cenas religiosas e de situações humilhantes. Com profundos traços anarquistas, o longa teve roteiro e direção do próprio Mira. Segundo o site Cine Close, o diretor teve que sair do Rio de Janeiro por temer represálias policiais e políticas. Apesar disso, Fabrício garante que não foi processado e que não procura saber.

“Não milito por nenhum movimento [..] Quero o meu bem e dos que se parecem comigo, o resto que se foda”

Dois de seus curtas vem causando polêmica em seu canal no youtube. Um deles, o “Deus odeia gays” mostra um jovem homossexual sendo exorcizado por cristãos. O curta, parece ser desses caseiros, que tem péssimas imagens. Mas o final revela que é tudo proposital.
No outro vídeo, o “Homofobia SIM”, o próprio Mira interpreta um jovem heterossexual, conservador, que critica a “Ditadura Gay”. E novamente o final é inesperado.  Fabrício consegue segurar o espectador e deixá-lo ávido até o desfecho da trama. Os vídeos tem sido muito utilizados pelo movimento LGBT para demonstrar a intolerância religiosa e a homofobia no Brasil. Mas Fabricio enfatiza não ser um militante.

Confira a entrevista completa:

ACDR – As Cores das Ruas
FM – Fabrício Mira

ACDR: Qual o seu envolvimento com o movimento LGBT, você desempenha alguma função? Ou é apenas militante?


FM: Não milito por nenhum movimento. O que acontece é que curto ficar com homens, travestis e qualquer forma humana que me agrade. Muitos me atacam verbalmente por isso. Perdi a calma e resolvi mostrar o que acredito nos vídeos. Existem gays insuportáveis e outros excelentes. Não sou hipócrita em dizer que quero o bem de todos. Quero o meu e o dos que se parecem comigo. O resto que se foda.


ACDR: Isso significa que, antes de tudo sua luta é pela igualdade e liberdade sexual?


FM: Pela minha liberdade sexual. Se isso acarreta em resvalar para outros, melhor.


ACDR: Sobre o filme "Sexo na Planície 2", um colunista do site Cine Close, diz que você teve que sair do Estado do Rio por medo de represália policial. Há cenas nele que envolvem policiais, autoridades religiosas e políticas, certo? Qual seu objetivo em fazer este filme? Desmistificar os ícones conservadores brasileiros, ou mostrar a hipocrisia presente nessa cidade (Campos dos Goyatacazes), e no Brasil?


FM: Mandar um grande: FODAM-SE! Não agüento mais a falsidade de tudo, em todos os segmentos. Não quero mais me restringir. Sexo na Planície 2 foi a minha carta de alforria da sociedade.


ACDR: Seus filmes parecem ser de fato, um tanto anarquistas e de protesto. Poderíamos classificá-los assim?


FM: Seria uma boa classificação. rs


ACDR: Você está sofrendo algum processo por causa deles?


FM: Que eu saiba não. Também não procuro saber.

Filmes como o de Mira, revelam o quanto nosso país ainda está arraigado nos setores mais sedimentados da sociedade. Taxado como "pevertido", "escandaloso", "radical demais" e sendo muitas vezes relegado por muitos, o polêmico diretor é a voz desesperada de muitos, que como ele, clamam por um mundo menos falso. Se ele está certo ou errado só o tempo dirá, mas algo com certeza é extremamente louvável: o uso da arte como forma de protesto, e como verdadeira expressão dos sentimentos, e não apenas mais uma mercadoria.

Confira seus curtas:


 Homofobia SIM.


Deus odeia gays (o link foi removido pelo youtube, mas você pode encontrar aqui)

Levemente amarelada : link aqui.

Obs: As opiniões contidas nesse post são exclusivamente minhas (Stamberg Júnior) isso quer dizer que nem todos os que participam desse blog estão de acordo com elas.

4 comentários:

  1. muito boa a entrevista e bem legais os curtas dele! :)

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  2. Um outro video meu sobre intolerancia. Foi retirado do youtube: http://vimeo.com/30890523

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  3. Outro sobre cocaína: http://vimeo.com/30891113

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  4. Obrigado pelo incentivo Pethrus!

    Fabricio, agradeço sua contribuição nesse post. Estarei disponiblizando seus vídeos nele!

    Stamberg Júnior

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