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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Semana da cultura Afro-Lusófona: O imperialismo da TV brasileira

por Daniel Medeiros

Estamos acostumados a receber influencia cultural norte-americana, por meio do cinema e outros veículos, mas o que talvez a maioria dos brasileiros não saiba, é que o Brasil também exerce um domínio semelhante em alguns países do continente Africano. Moçambique e Angola, que também foram colônias de Portugal, sofrem da febre conhecida como Brazilian Way of Life. Andando um pouco pelas ruas desses lugares, é bem possível que encontremos gírias, roupas e cortes de cabelos idênticos aos que vemos por aqui.

Capa de revista angolana

A grande responsável por esse “abrasileiramento” de nossos irmãos lusófonos é, sem sombra de dúvidas, a televisão. Desde os anos 80, as nossas telenovelas vêm ganhando espaço no imaginário coletivo de Moçambique e Angola, propagando tendências de moda, e até interferindo na língua local. Nossos atores são um verdadeiro sucesso por lá, Taís Araujo e Lazáro Ramos, por exemplo, são cultuados tal qual o casal Angelina Jolie e Brad Pitt, graças à repercussão da novela Cobras e Lagartos (2007). Em Moçambique, além da teledramaturgia outro tipo de produção “tupiniquim” ganhou destaque nos últimos anos; se trata dos programas policiais e religiosos exibidos pela Record Moçambique, ou TV Miramar, que transmite na maior parte do tempo programação brasileira, ou cópias dela. Em Angola, mesmo só estando disponíveis via TV por assinatura, a Globo e a Record despontam como vice-líderes na audiência. Em Luanda existe até um mercado público chamado Roque Santeiro, em homenagem a novela “Global” que fez sucesso na década de 80.


Esses dados podem até ser gratificantes para o nosso patriotismo, mas não representam de forma alguma um ponto positivo para essas nações. As novelas brasileiras lhe ensinam valores que não são seus (elas não representam nem nossa própria realidade, o que dirá a dos outros), lhe impõem hábitos que não são seus, e contribui para um sentimento de inferioridade. Porém, nem todos os habitantes desses locais recebem essa influência de braços cruzados. Em Moçambique, por exemplo, o governo proibiu a exibição dos programas policiais brasileiros, que não eram vistos de maneira positiva por parte da população. Além disso, é crescente o número de jovens e intelectuais que se dedicam a denunciar esse imperialismo brasileiro, em estudos acadêmicos e na internet.


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