Páginas

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Criolo, o doido

por Renata Santos



Filho de cearenses, nascido e criado no Grajaú, zona sul de São Paulo,Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo, é o cantor do momento. Compositor e intérprete de rap e hip hop, trabalhou como educador entre 1994 e 2000, e hoje é o precursor da “rinha dos Mc’s”. Seu primeiro disco, intitulado "Ainda há Tempo", o levou a participar do Som Brasil especial em homenagem à Vinícius de Moraes e a receber o prêmio “ Música do Ano” e “Personalidade do ano” no evento “ Rap é compromisso”.
 Em 2011, o cantor lançou seu segundo álbum “Nó na orelha”  gratuitamente através da internet, com a mistura de vários ritmos além do rap, como funk, soul, blues e até o brega. Esse disco teve excelente repercussão pela crítica e deu-lhe a oportunidade de participar de vários programas de tevê, entre eles o Altas Horas na rede Globo.
 As canções de Criolo tratam de verdades particulares e universais.  A mesma naturalidade que o faz produzir canções voltadas aos moradores da periferia, também o inspira em músicas que tratam de vazio interior, de ricos e de pobres.
 Nó na orelha foi o disco que o consagrou como cantor e nele, pode-se dizer que o rap foi elevado a um nível de excelência, diminuindo sua restrição às favelas, morros, subúrbios e periferias. O Rap virou clássico, o choro dos desumanizados, o grito dos sem voz. E é Criolo o portador das mensagens tantas vezes ácidas que esse povo tem a dizer. Tão ásperas às vezes que o próprio cantor chegou a declarar: “Legal mesmo seria eu não cantar o que eu canto, eu não sentir essa dor no peito, Eu faço música porque to desesperado” [entrevista à revista Trip]. Demonstra, com essas palavras, não apenas sua dor, mas a dor de tantos outros e, porque não, de todos nós, homens e mulheres angustiados pela vida, desesperados por solução e assim como Criolo, ansiosos por mudanças.
 Sua vivência com o rap foi, muitas vezes, misturada à atividade como educador. Não eram raras as vezes em que, na sala de aula, ele conhecia a história de meninos de rua, Garotos que eram punidos diariamente por roubarem um pedaço de comida. Tudo isso aumentava o desespero no coração daquele homem sensível, cuja única ambição é, através da música, extravasar sua dor e tentar melhorar a vida daquelas crianças de alguma forma.
 A Rinha dos Mc’s é uma forma de realizar esse sonho. A rinha é uma festa de hip-hop na qual o público improvisa rimas em duelos semelhantes ao repente nordestino. Além disso, o evento também realiza shows semanais, exposições de graffiti e fotografias. A rinha já passou por seis pontos na zona Sul de São Paulo e é um grande berço para novos talentos. “O cara do hip-hop tem raça, mostra o talento na laje, calçadas e escolas. A festa é apenas mais um local para isso." diz o cantor. Um desses talentos descobertos na rinha dos mc’s é o músico E.M.C.I.D.A, que já faz grande sucesso no cenário musical brasileiro e disputou o premio MTV vídeo music Brasil e duas categorias.
 E por falar em premiação, Criolo foi campeão em indicações ao VMB 2011 nas categorias: “Videoclipe do ano”, com o clipe da música Subirusdoistiozin, “Artista do ano”, “Album do ano”, com Nó na orelha, “Música do ano”, com o single “ Não existe amor em SP” e “banda ou artista revelação”. Além disso, nesse mesmo evento, ele foi o primeiro confirmado para cantar sua canção “ Não existe amor em SP” ao vivo, ao lado de Caetano Veloso.
 Todas essas conquistas demonstram a força, a garra e o talento de Criolo, e nos dá a esperança de um futuro sem tantos preconceitos de classe, cor e até ritmo musical. Mais uma porta aberta por esse rapaz cheio de brilho nos olhos e que até nos confunde e nos faz questionar: Será mesmo que não existe amor em SP?



Nenhum comentário:

Postar um comentário